domingo, 19 de julho de 2015


ECCLESIA PAUPERUM


Maria Lucia Victor Barbosa

19/07/2015

 

Enquanto no País escândalos, prisões, delações, embates de Poderes sacodem a vida nacional e concentram atenções e notícias, a vida no planeta continua girando e produzir alterações no modo de viver e pensar da humanidade. De algum modo essas mudanças nos atingem e, por isso, é bom prestar atenção nelas.

Saindo um pouco do Brasil veremos que fatos mundiais relevantes estão em curso e citemos apenas alguns poucos para não alongar demais o artigo:

1º - Os problemas econômicos da China, à qual nos atrelamos preferencialmente por obra e graça de Lula da Silva. 2º - O acordo nuclear do presidente Obama, apoiado por potências mundiais, com o Irã, algo perigosíssimo que pode futuramente destruir primeiro Israel, depois os Estados Unidos e, finalmente, não sobrara nada. 3º - A visita do Papa Francisco a países latino-americanos. Em todos esses fatos prepondera o fator político.

Como tenho formação católica vou me deter no Papa e seus discursos. E que tenho me perguntado: por que foi eleito pela primeira vez um Papa jesuíta e latino-americano? Comecei agora a decifrar o enigma que merecia um texto de pelo menos cinquenta páginas, mas que vou resumir ao máximo. Essa breve análise nada tem a ver com fé, mas sim com o poder temporal da Igreja Católica.

O fundador da Companhia de Jesus foi o temperamental fidalgo espanhol basco Inácio de Loyola. A Companhia foi moldada pelo padrão militar. A disciplina era férrea. Toda individualidade era suprimida e de cada um e de todos exigia-se uma obediência de soldado ao general.

As atividades dos jesuítas foram como ainda são variadíssimas. Eles trabalharam sem trégua na Inquisição, espalharam-se pelos quatro cantos do planeta, estiveram em todos os centros de decisões, fizeram da educação sua atividade mais importante, funcionaram desde o início como uma multinacional da fé. Georges Bernanos disse que “o velho sonho dos jesuítas era o de organizar a cristandade segundo o método da ditadura totalitária e da razão de Estado”. Será que eles mudaram?

Ainda no âmbito da história recordemos que foi no Novo Mundo americano que a Igreja alcançou seu maior sucesso numa época em que o Velho Mundo europeu enfrentava a Reforma. Portanto, há tempos a Igreja considera a América Latina como sua filha preferida. Nesse sentido tem toda razão Carlos Rangel quando apontou em sua obra, Do Bom Selvagem ao Bom Revolucionário, que “A Igreja Católica é mais responsável do que qualquer outro fator pelo que é e o que não é a América Latina”.

Quanto as nossas origens coloniais pode-se dizer usando uma expressão de Ortega y Gasset, que tivemos uma “embriogenia defeituosa”, por sua vez geradora de sociedades desiguais. Nestas, até hoje não foi, conforme Rangel, o marxismo, mas sim a teoria leninista do imperialismo e da dependência que falsamente propôs uma resposta consoladora e esquerdizante ao complexo de inferioridade crônico que a América Latina sofre em relação aos Estados Unidos. Paradoxalmente, continua grande a imigração de latino-americanos para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor.

 No momento, segundo o Instituto Pew Researh, com sede nos Estados Unidos e citado pelo The Economist, “o Paraguai (onde 89% da população é católica), o Equador (79%) e a Bolívia (77%) continuam sendo os bastiões da fé, juntamente com Colômbia e México”.  

Note-se que a recente visita do Papa se deu justamente no Paraguai, no Equador e na Bolívia, sendo que neste último o Papa recebeu de Evo Morales uma cruz formada pela foice e o martelo, símbolo do comunismo, com um cristo pregado. Esdrúxula adaptação do materialismo de Marx com a espiritualidade de Cristo.

Nesta viagem, onde ficou claramente definida a política do papado, o Papa fez sua mais veemente condenação ao capitalismo. Em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, o Pontífice foi saudado por João Pedro Stédile, mentor dos sem-terra que tem visitado o Vaticano juntamente com líderes dos chamados movimentos sociais e da Teologia da Libertação. Disse Stédile diante de centenas de militantes de movimentos sociais: “Assim como o capitalismo tem Obama, nós temos o Papa Francisco”.

 Mas será que essa ecclesia pauperum ou igreja dos pobres que o Papa Francisco prega, mesmo que seja em nome de um pós-marxismo, não manterá os pobres da América Latina, sempre pobres? Afinal, o socialismo, aonde quer que fosse implantado levou ao cerceamento da liberdade, à violência contra a população, à escravização completa do indivíduo, ao nivelamento por baixo na miséria enquanto a classe dirigente gozava das delícias da riqueza.  Enfim, o paraíso prometido na terra tornou-se o inferno. Talvez, uma pregação mais espiritual e menos política enseje um proselitismo mais exitoso da Igreja na América Latina.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

www.maluvibar.blogspot.com.br

Um comentário:

  1. Maria Lúcia, assim como você, sou católico, apostólico romano, e morro só de pensar em materialismo, existencialismo, ateísmo, gnosticismo e outros "ismos" afins. Leio muito os artigos do prof; Olavo de Carvalho e assisto muito também os vídeos do Pe. Paulo Ricardo, que eu adoro. Aí me veio uma indagação: será que o Papa Francisco não quer, em verdade, mostrar a todos nós católicos que devemos perdoar os pecadores, por amor a Nosso Senhor, Jesus Cristo? Rezo muito para que seja assim.
    De todo modo, Maria Lúcia, se puder, por favor, me ajude com essa angústia que dilacera meu coração.
    Adoro ler os teus artigos.
    Deus te abençoe!

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